A Nazaré mantém intactas diversas tradições ligadas à sua actividade piscatória
É uma das paisagens mais conhecidas do litoral português, aquele impressionante promontório com vista panorâmica sobre a Nazaré, o oceano e toda a linha de costa para sul. São mais de 300 metros a pique, coroados, no seu topo, pela pequena e pitoresca Capela da Memória, onde, segundo a lenda, o cavalo de D. Fuas Roupinho terá estancado as patas, evitando que o amigo e companheiro de armas de D. Afonso Henriques despencasse pelo precipício quando ia em perseguição de um veado. Diz o povo que o sinal deixado na rocha pela ferradura, nessa enevoada manhã do ano de 1182, ainda lá está, cravado no Miradouro do Suberco. Desde então lugar de grande devoção, a Nazaré continua hoje a atrair multidões vindas dos quatro cantos da terra. A maioria, porém, já não vem para rezar no Santuário da Senhora da Nazaré, por onde passaram Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral antes de se fazerem ao mar, mas sim para ver as ondas gigantes que nos últimos anos deram uma fama planetária à vila. A culpa foi de Garrett McNamara, o surfista havaiano que em 2012 surfou a maior onda do mundo atéentão. A partir desse momento, a Praia do Norte tornou-se procurada por surfistas do mundo inteiro. O segredo de tamanhas ondas reside no Canhão da Nazaré, o maior desfiladeiro submerso da Europa, com cerca de 200 km de comprimento e 500 metros de profundidade, que desemboca mesmo em frente ao Forte e Farol de São Miguel Arcanjo, junto a um areal quase selvagem e de grande beleza natural, conhecido como Praia do Norte. Intacta permanece também a tradição piscatória da vila, como se comprova nos velhos barcos de arte xávega, ainda hoje praticada, ou no peixe a secar no areal, uma tradição do tempo em que ainda não havia frigoríficos e tinha de se conservar o peixe de outras formas. Pode ser comido assim mesmo, seco, mas também confeccionado de diversas formas, “cozido, grelhado, de cebolada, em tomatada ou até à Brás”, como explicam as vendedoras aos visitantes. O pescado é vendido ali mesmo, junto ao areal, em bancas de madeira, por senhorasvestidas com as tradicionais sete saias, um símbolo que em tempos atraiu à Nazaré o realizador Stanley Kubrick ou o fotógrafo Cartier-Bresson. São várias as explicações para as ditas saias, mas o que se sabe é que esta tradição está ligada à faina, tal como quase tudo na vila. E um dos melhores modos de se provar literalmente esta ligação umbilical da vila ao mar é à mesa, frente a um prato de marisco, de um peixe grelhado ou de uma fumegante caldeirada.
- O Santuário de Nossa Senhora da Nazaré
- A Nazaré mantém viva a tradição da secagem do peixe
OS NOSSOS GUIAS LOCAIS NO PINGO DOCE DA NAZARÉ
VERA PAIVA
Operadora de Não Perecíveis
“O meu local favorito é o Sítio da Nazaré, em especial o Miradouro da Pederneira, de onde se podeapreciar uma vista panorâmica sobre a vila. Também gosto muito de ir ao monte de São Brás, o ponto mais alto do concelho, onde todos os anos, no dia 3 de Fevereiro, se realiza a festa popular que dá início ao famoso Carnaval da Nazaré.”
ANA MARIA PORTUGAL
Operadora de Secção Frutas e Vegetais
“A Nazaré tem muitos trajes típicos, tanto femininos como masculinos, que ainda hoje são usados. Gosto muito das tradicionais sete saias. A melhor época para se visitar a vila é durante o Carnaval, que aqui tem características únicas, como as marchas e os trajes, que eu própria costumo costurar.”
FÁBIO PORTUGAL
Operador de Secção de Talho
“Um dos principais cartões-de-visita da nazaré é a gastronomia, na qual o peixe fresco é o rei. Para quem a quiser provar, aconselho a Taberna da Adélia e o restaurante Aqui Del mar. As ondas gigantes, que sempre existiram, mas só nos últimos anos se tornaram conhecidas, também são hoje um símbolo da vila.”
ELSA FARITAS
Supervisora Frente de Loja
“Ir ao Forte de São Miguel ver as ondas é hoje obrigatório e depois pode-se aproveitar para conhecer toda a zona histórica do Sítio da Nazaré, onde o miradouro da Pederneira e a igreja da Senhora daNazaré são locais obrigatórios de visita.”
Edição 114
Edição 113
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