Nutrição clínica: as 5 dúvidas mais frequentes

É muita a informação que circula atualmente (nem toda correta e, por vezes, contraditória), nos diferentes meios de comunicação. Cabe ao nutricionista desmitificar a sua veracidade, pautando-se pela evidência científica da qualidade

Falar de literacia em saúde é falar sobre capacitar os indivíduos a tomarem decisões informadas no seu dia a dia, que lhes permitam manter ou melhorar o seu estado de saúde. Nesta edição vamos responder às questões mais frequentes da consulta de Nutrição.

 

Qual é a melhor dieta para perder peso?

O ganho ou perda de peso assenta numa equação: se ingerirmos mais calorias do que gastamos, aumentamos de peso; se gastarmos mais calorias do que as que ingerimos, perdemos peso. O principal pré-requisito para perder peso é este: a existência de um balanço energético negativo, sendo que existem vários caminhos possíveis para o obter. Importa que seja traçado um plano alimentar, com acompanhamento de um nutricionista e que este seja o mais adaptado possível ao indivíduo, de forma a facilitar a adesão ao mesmo e ao sucesso da intervenção.

 

O jejum intermitente é a melhor forma para perder peso?

Não há evidência científica que sustente que o jejum intermitente é a melhor abordagem para perder peso, quando comparado com dietas de restrição calórica contínuas. Os estudos indicam uma perda de peso semelhante em vários tipos de dietas, desde que garantido um balanço energético negativo. Parece, então, que o jejum intermitente constitui mais uma alternativa a considerar quando o objetivo é a perda de peso, não sendo, contudo superior a outros métodos, quanto aos resultados. Importa salientar que pouco se sabe ainda acerca do impacto do jejum intermitente na saúde a longo prazo, existindo ainda uma escassa evidência científica nesse âmbito.

 

O consumo de leite é prejudicial à saúde?

O leite tem um valor nutricional muito interessante: é fonte de proteínas de alto valor biológico, além de rico em cálcio, fósforo, iodo e vitaminas do complexo B. Não existe evidência científica de que seja prejudicial à saúde, pelo contrário, a sua riqueza nutricional confere-nos vários nutrientes importantes para a manutenção de um bom estado de saúde. Se consumido com moderação, de acordo com a ingestão diária recomendada (duas a três porções de laticínios, por dia), parece até ter um papel preventivo em doenças como a osteoporose ou alguns tipos de cancro. O seu consumo apenas está contraindicado em situações de alergia e/ou intolerância alimentar.

 

Bebidas vegetais em substituição do leite: uma melhor opção?

A maioria das bebidas vegetais não são equivalentes ao leite de vaca, do ponto de vista nutricional, principalmente no seu teor proteico (à exceção da bebida de soja). Em algumas destas bebidas, são adicionadas elevadas quantidades de açúcar, enquanto no leite, na sua versão simples, apenas existe um açúcar naturalmente presente, a lactose. Por isto mesmo, é importante na escolha de bebidas vegetais analisar o rótulo e ler e interpretar corretamente a lista de ingredientes. Recomenda-se optar por uma bebida vegetal com maior teor proteico, sem adição de açúcar e enriquecida em cálcio.

 

Devemos restringir o glúten da alimentação para sermos mais saudáveis?

Não há evidência científica que sustente a exclusão do glúten da dieta, à exceção dos doentes celíacos. O glúten é uma proteína presente no trigo, centeio e cevada. A aveia poderá ter glúten por contaminação, devido à utilização dos mesmos solos para cultivo. Na sensibilidade ao glúten não celíaca podem existir sintomas semelhantes aos da doença celíaca, aquando do consumo de glúten, nomeadamente desconforto abdominal, diarreia e flatulência.

 

Autoria: Ana Rita Lopes, Clinical Nutrition Manager Jerónimo Martins